Levantamento aponta que o Brasil já possui 154 foodtechs, a maioria na região sudeste do País
No meio de março, na mesma semana em que começava a operar no Brasil, uma startup latino-americana atraía a atenção do mundo dos negócios. Fundada por três jovens chilenos e batizada The Not Company (também conhecida pela abreviação NotCo), a empresa finalizou uma rodada de investimentos que garantiu um aporte de US$ 30 milhões. A transação incluiu a entrada de Jeff Bezos, fundador da Amazon e homem mais rico do mundo, como sócio da companhia. O que um dos empreendedores mais bem-sucedidos do mundo viu na empresa latino-americana que desenvolveu em 2015 uma maionese sem ovos? Ao que parece, o futuro da alimentação.
As foodtechs, companhias que utilizam novas tecnologias para revolucionar o setor alimentício, querem promover no segmento a mesma reviravolta que aconteceu nas áreas de música, entretenimento, mobilidade, finanças e turismo. “A indústria de alimentação é muito lenta. São oito anos desde a ideia, passando pelo desenvolvimento, validação, marketing, até chegar ao lançamento”, diz o biotecnólogo Pablo Zamora, co-fundador da NotCo e responsável pela formulação de seus produtos. “Há muita política e entraves regulatórios dentro das grandes empresas”, complementa o executivo de 40 anos, que antes foi funcionário da fábrica de chocolates Mars.
A NotCo promete ser mais ágil. Quer desenvolver produtos — da ideia ao lançamento — em apenas quatro meses. A empresa utiliza inteligência artificial para criar maionese, sorvetes e leite de base vegetal e sem insumos animais.
Em 2017, a NotCo começou a vender maionese sem ovos na rede chilena Jumbo. Em oito meses, abocanhou 8% do mercado. O produto chega agora ao Brasil em parceria com a rede Pão de Açúcar. Na sequência, virão sorvetes e leites também preparados sem proteína animal. Do lado de cá da fronteira a movimentação é intensa. Segundo o Movimento Foodtech, criado pela consultoria Builders Construtoria, já são 154 empresas. “A maior parte delas está voltada para entrega e atendimento a um novo consumidor que deseja alimentos mais saudáveis”, diz Carolina Bajarunas, fundadora da Builders. “As pessoas não têm tempo de cozinhar, mas precisam comer bem e rapidamente. Então, diversas empresas entregam kits prontos.”
Unicórnio
A maior e mais conhecida foodtech brasileira é o iFood, que faz entregas por meio de aplicativos, atende 500 mil pedidos por dia e tem 10,8 milhões de clientes cadastrados. “O mercado de delivery ainda tem muito espaço para crescer e queremos continuar protagonizando essa revolução”, diz Carlos Moyses, CEO do iFood. “Impulsionar essa transformação significa desenvolver todo o ecossistema de entrega de refeições, gerando melhor experiência aos consumidores, restaurantes e entregadores.” O iFood acaba de receber um aporte de capital de US$ 500 milhões por meio da Movile, com a Naspers e Innova Capital. O investimento transformou a empresa no primeiro unicórnio do segmento foodtech no Brasil. Unicórnio é o apelido dado pelo mercado a startups com valor acima de US$ 1 bilhão. E o plano do iFood é seguir inovando para crescer.
Diferentemente do que faz a NotCo, poucas brasileiras usam tecnologia para criar produtos mais saudáveis. “Estamos pelo menos uns sete anos atrasados”, diz Carolina Bajarunas. Na Finlândia, a Solar Foods promete produzir proteína apenas por meio de eletricidade, água e ar a partir de 2021. O complexo processo envolve alimentar micróbios com hidrogênio e, depois, extrair deles células com composição de aminoácido similar ao de soja ou de algas. O resultado é um pozinho parecido com leite em pó.
Fonte: Istoé Dinheiro