Depois de um longo período de crise econômica no Estado do Rio, os bares e os restaurantes voltam aos poucos às vidas dos moradores. Um levantamento do Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro (SindRio) com seus associados mostrou que, pela primeira vez desde 2014, o setor fechou o ano com um saldo positivo de contratações na capital.
No início de 2018, ainda houve muitas demissões. Mas, de setembro a dezembro, o saldo foi positivo todos os meses, sendo 1.687 pessoas recrutadas, fechando o ano com 40 novas contratações. O número de estabelecimentos também aumentou de 10.500 para 11 mil. Segundo o levantamento, as áreas que mais geraram empregos foram a Tijuca, a Barra da Tijuca e o Galeão (Aeroporto Internacional Tom Jobim).
— Tivemos tempos conturbados com o cenário político e a crise fiscal no estado. O consumo parou porque está muito ligado à segurança e à expectativa de futuro. Agora, com a volta de um pouco mais a normalidade, as pessoas estão voltando a consumir, e os restaurantes e bares estão contratando para essa demanda — disse Fernando Blower, presidente do SindRio.
Era com essa perspectiva que muitos empresários investiram e, agora, estão colhendo os frutos. Esse foi o caso do Maguje, um restaurante cervejaria inaugurado em setembro de 2018, em uma nova área que construiu no Jockey Club.
— Sempre acreditamos na recuperação do Rio e, por isso, investimos na cidade. O projeto nasceu em 2015, e agora, surpreendentemente, a clientela está até acima das expectativas — afirmou Harrison Baptista, sócio do Maguje, que contratou cerca de 80 funcionários para abrir a unidade.
Os shopping centers também estão apostando na alimentação para atrair mais clientes. Para a BrMalls, uma das maiores empresas de centros comerciais do Brasil, o foco são áreas gourmet. A empresa abriu 17 restaurantes em 2018, com investimentos, principalmente, no Shopping Tijuca; no Plaza Niterói; no NorteShopping, no Cachambi; e no Casa Gourmet, em Botafogo.
— Estudamos o comportamento do consumidor e percebemos que eles buscam viver uma experiência no shopping. E, hoje, é a alimentação que está na moda como um entretenimento e mesmo status — disse Jini Nogueira, diretora comercial da BrMalls, que conta que os investimentos em restaurantes no Rio têm sido um sucesso, principalmente em redes do Abraccio, de cozinha italiana, e da pizzaria Mamma Jamma.
Até quem não está diretamente ligado a esse setor tem enxergado as oportunidades. O RIOgaleão está apostando em restaurantes e abriu sete em áreas públicas no aeroporto internacional, no ano passado, visando também a atrair os moradores da Ilha do Governador. Um deles é o americano T.G.I Friday’s, o único da marca no Rio.
— Queremos explorar outros negócios e estar presente na vida do carioca. Vimos que a região da Ilha do Governador é carente de restaurantes e quisemos ser uma opção — afirmou Leandro Dantas, head comercial do RIOgaleão, que está investindo em eventos e lançando uma campanha para quem comer em alguns restaurantes não pagar estacionamento.
No total, o aeroporto abriu 17 unidades, contando com áreas restritas, o que gerou cerca de 500 contratações e cerca de 20 milhões em investimentos. É uma amostra de que esse setor que tanto emprega e alegra o carioca está voltando.
Pós crise, setor profissionaliza a gestão
Entre 2015 e 2017, o saldo do número de bares e restaurantes que abriram e fecharam ficou negativo em cerca de 6.800. A economia contribuiu para a crise no setor, mas a falta de profissionalização e gestão também. Agora, quem sobreviveu deve tirar as lições do momento.
— Em geral, o Rio sempre teve um perfil de negócio mais familiar. Mas a crise obrigou o empreendedor carioca a fazer uma gestão mais eficiente, analisando melhor os custos da operação. E, agora, esses estabelecimentos estão saindo um pouco mais profissionalizados desse ciclo — afirmou Enzo Donna, diretor da consultoria ECD Food Service.
Esse foi o segredo da pizzaria Mamma Jamma, que abriu duas unidades e contratou 75 funcionários em 2018.
— A gestão foi essencial. Com isso, conseguimos congelar os preços e atrair os clientes, enquanto os concorrentes de preços altos ficaram para trás — disse Marcello Poltronieri, sócio do Grupo NOZ, do Mamma Jamma, que viu a operação crescer 20% no ano passado.
Oportunidades de empreender e de carreira
Para quem quer empreender com bares e restaurantes, o mercado ainda está com oportunidades nesse fim de crise.
— Os aluguéis de pontos comerciais estão mais baratos, e é possível negociar bons preços. Muitos locais, por estarem endividados, não estão nem cobrando as usuais luvas, que é o direito de usar o local pelo período contratual — disse Marcus Quintella, professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Para quem busca emprego, a retomada do setor é uma ótima notícia, já que o segmento emprega mais de 110 mil pessoas no Estado do Rio. Mas, para quem nunca trabalhou na área, agora é importante buscar qualificação.
— Com o desemprego em alta, recebemos uma alta oferta de trabalho, e qualificada. É bom buscar cursos de profissionalização para entrar no ramo. Isso é bom inclusive para seguir carreira, para ser gerente ou chef — disse Fernando Blower, presidente do SindRio.
Segurança atrapalha lazer e negócio
As expectativas para o setor de bares e restaurantes são de uma lenta retomada da atividade. O público já se mostra mais disposto a gastar ao sair para comer e beber. Mas a disposição é contida pelo medo de estar nas ruas até tarde.
— A segurança é um ponto crítico. Muitos bares têm visto seus clientes saírem mais cedo, com medo. Isso quando não há negócios que até fecharam por causa da localização — afirmou Roberto Maciel, presidente da Abrasel no Rio de Janeiro.
Os bares de rua são os mais afetados. Com esse cenário, o público tem buscado opções em locais fechados. Assim, os shopping centers têm ocupado esse espaço.
— Nas nossas lojas de rua, vimos uma mudança de comportamento, com o cliente chegando e saindo mais cedo. Por isso, em nosso plano de expansão, estamos optando por abrir unidades em shoppings — contou Marcello Poltronieri, sócio do Grupo NOZ, da pizzaria Mamma Jamma, que irá abrir duas unidades ainda neste semestre.
O Riogaleão também concorda que esse é um desafio e trabalha com as autoridades para tentar melhorar a segurança na região. Além disso, afirma que estar em um lugar fechado, com a presença da Polícia Federal (PF), tem sido um diferencial.
Fonte: Extra